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domingo, 1 de julho de 2012


O povo é um mero detalhe...

POSTADO ÀS 12:30 EM 01 DE JULHO DE 2012
Por Roberto Numeriano
As eleições de 2012 em Pernambuco demonstram, desde já, a falência do modelo político brasileiro, em termos ideológicos e eleitorais. Estamos assistindo o maior vale tudo da história política brasileira, com as lideranças  dos partidos hegemônicos mergulhadas em acordos espúrios, reconciliações demagógicas, traições novas e velhas, articulando-se todos em torno de um projeto de poder que não respeita ou reconhece nenhuma mediação da cidadania política dos pernambucanos.
O que está havendo, afinal? O que explica a degradação do ambiente político e a degeneração do comportamento dessas lideranças, algumas das quais até ontem posando como exemplares homens públicos? Quais as causas da política brasileira, em geral, e pernambucana, em particular, ter se reduzido a uma disputa de egos monstruosos, vaidades infladas, projetos de grupos que mais parecem máfias brancas, tudo azeitado por máquinas públicas capturadas pelo poder do capital privado (empreiteiras, empresas de ônibus, comércio e indústria)?
Talvez a principal resposta esteja na noção de que essas lideranças concebem a política como uma técnica e um espaço que devem ser gerenciados exclusivamente pelas cúpulas partidárias, “proprietárias” dos cargos comissionados, dos contratos com as empresas, dos projetos e políticas públicas. No Brasil, o espaço público (elemento essencial para a intervenção política) está sendo apropriado por grupos político-empresariais que se  assemelham (não creio ser exagero comparar) a corporações fascistas.
Não é por acaso que, cada vez mais, tais grupos assimilam e disseminam o discurso político-ideológico do governo como um governo de "técnicos", "gerentões", homens que estão qualificados e supostamente conhecem melhor do que ninguém ("ninguém", no caso, é o povo) o que é melhor para a cidade, o Estado e o país. Estão aí João da Costa (reprovado com louvor pelos seus próprios pares petistas) e, agora, o mais novo confrade da nova ordem burocrata, o candidato do colete do governador, Geraldo Júlio. (Quando será reprovado pelos seus chefes socialistas, se não for, desde já, pelas urnas?)
O perigo dessa ideologia não é apenas o elitismo de uma burocracia que concebe a gestão pública como uma questão gerencial. O perigo é muito pior. O discurso do gestor competente pretende ser ele próprio, como estratégia discursiva, um substituto do espaço público onde a vida viva das ruas, as contradições por dentro das lutas entre as classes (não, caros senhores, tais lutas subsistem mais radicais do que nunca, sob vários disfarces e mediações político-ideológicas), e os partidos se conflitam em torno do poder material (o Estado e suas políticas públicas) e/ou simbólico.
Se este espaço é tomado por uma mistificação ideológica, uma falácia discursiva, a tendência é, progressivamente, as pessoas de carne e osso, os "ninguéns", afastarem-se da política porque entenderão que a mesma é coisa para casacudos senhores que falam grosso, posam para fotos com sorrisos largos, definem a vida e a morte do povo entre boas rodadas de uísque. O torpor e o desânimo da cidadania recifense (e brasileira, como um todo) resulta dessa enganação e empáfia de tecno-burocratas, coronéis do asfalto e legiões de comissionados privados e públicos que parasitam a máquina pública.
A única alternativa para bloquear essa arrogância e autoritarismo é restituir à cidadania recifense o seu legítimo espaço para debater e propor soluções para a cidade, que não estejam, previamente, sob o jugo e o jogo do interesse/domínio privado (a categoria que, ao fim e ao cabo, está por trás dessa formulação e prática autoritárias). Há décadas o povo vem sendo alijado e/ou manipulado no que diz respeito a discutir o tipo de cidade onde quer viver e projetar o seu futuro. Há décadas o povo tem sido um mero detalhe. E é por estar vendado e amordaçado por políticos elitistas e seus técnicos, que temos uma cidade degradada na saúde, no transporte público, no saneamento, na segurança e na educação.
A cidadania política e social dos recifenses somente será restituída pelo poder popular (não o "popular" dessas frentes e frentões com suas sopas de letras de aluguel), mediação necessária para recriar o espaço público a partir de quem sofre uma cidade injusta e autoritária. Paradoxalmente, somente os pobres, os "ninguéns", é que podem pensar uma Recife com qualidade de vida universal, de todos, resgatando ainda a política como expressão de vontades livres, acima de partidos e da própria organização estatal.
*Roberto Numeriano é candidato a Prefeito do Recife e membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
FONTE: BLOG DO JAMILDO /Postado por Vinícius Sobreira

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