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terça-feira, 7 de agosto de 2012


opinião

Discursos em evidência no Recife na cisão da Frente Popular

POSTADO ÀS 23:59 EM 06 DE AGOSTO DE 2012
Por Otávio Luiz Machado*

O reencantamento da política vai ser o desafio de todo e qualquer candidatura nas eleições desse ano em Recife, porque não se viu na cidade nos últimos três anos muitas iniciativas que apresentassem a política como o instrumento de mudança na vida das pessoas e da própria cidade. Muito em função do distanciamento do poder público naquilo que faz parte do dia-a-dia e é mais básico para a rotina de qualquer cidadão, como o direito de ir e vir (dificultado por um sistema de transporte falho e por vias interrompidas pelo trânsito sem controle e planejamento), o péssimo atendimento dos serviços públicos e pelo sentimento da falta de lideranças compromissadas em resolver esse quadro. Até parece que a cidade adormeceu em várias de suas partes nos últimos anos.

O que não significa dizer que isso tornou as pessoas menos corajosas, porque nunca se viu tantos protestos, tantas reclamações públicas e tanto senso de mudança por aqui. É óbvio que não está tudo ruim, e vai perder feio quem apostar na propaganda de terra arrasada nessas eleições, porque estamos falando especificamente da política do “fala que eu não te escuto” promovida pela Prefeitura em áreas tão evidentes e básicas, o que causou o natural enfurecimento dos cidadãos diante da falta de respostas do poder público.

Uma primeira tônica dos discursos que ouvi nesse final de semana de pelo menos duas frentes de candidaturas indicam que o debate sobre o que avançou e o que precisa avançar na cidade de Recife não vai deixar de buscar no passado mais distante para  resgatá-lo até os dias de hoje o sentido atribuído ao atraso, ao novo, à mudança.

O final de semana foi marcado por dois importantes atos de campanhas das eleições de Recife em 2012, o que podemos considerar como o início “oficial” das campanhas das duas principais campanhas que estão disputando a hegemonia política na cidade de forma mais acirrada: a candidatura de Humberto Costa-João Paulo e Geraldo Júlio-Luciano Siqueira.

No sábado (4-08-12) aconteceu o primeiro ato público de campanha que reuniu o governador Eduardo Campos e o Senador Jarbas Vasconcelos, que ocorreu no lançamento do comitê do candidato a vereador Jarbas Filho (ou Jarbinhas). No domingo (5-08-12) foi a vez do lançamento do Comitê da campanha dos candidatos a Prefeito Humberto Costa e João Paulo.

Fui aos dois eventos e o que de “cara” dá para perceber é a reinvenção da antiga disputa entre a Frente Popular e a antiga União por Pernambuco que pode ganhar evidência nesse início de disputa, porque Jarbas Vasconcelos – e os seus “novos” aliados – estão intensificando um discurso anti-PT que não só centra na atual gestão de João da Costa, mas nas gestões iniciadas por João Paulo em 2000. Fala de um suposto abuso do PT.

“Aqui o  Partido dos Trabalhadores abusou da consciência, da conduta e da inteligência dos recifenses (...) Lançaram na última eleição um candidato para governar a cidade do Recife lançando inclusive que “João é João”. E João foi João até 90 dias. Depois abandonaram o João e João ficou incapacitado inclusive de governar a cidade. Nós fomos contra essa prática”



Humberto Costa responde de alguma forma a esse reclame de Jarbas invocando a figura de Lula, que até onde se sabe é do PT. “Pernambuco e Recife também foram prioridades. Aliás, a história de Recife e a história de Pernambuco se dividem em dois momentos: o antes e o depois de Lula”. Aí no seu discurso apresenta tudo o que veio para a cidade e o Estado através do apoio de Lula.

O discurso de Eduardo Campos entra no meio dessa disputa histórica, porque seu foco é no hoje e no agora, em especial da cidade de Recife:

“Nós haveremos de cuidar desse Recife com grande carinho (...) Esse momento belo que vive Recife é o levante da cidadania recifense (...) Os que amam o Recife e vão estar sendo convocados para essa ampla aliança para termos um prefeito que vai colocar o Recife no século XX”.



Mas nisso tudo o discurso de João Paulo não pode ser desprezado, porque quem iniciou a cultura de vinda de recursos federais expressivos para Pernambuco foi a sua gestão, com o amplo apoio do Presidente Lula: 

“Estamos pedindo que o povo do Recife nos dê mais  uma oportunidade de nós construírmos e darmos continuidade ao que nós chamamos que qualquer obra de qualquer governo é cuidar das pessoas (...) Os desafios que nós assumimos em uma cidade com 1 milhão e meio de habitantes, mas de 1 milhão e 50 mil vivendo na pobreza ou abaixo da linha da pobreza”



Também não pode ser desprezado os projetos apresentados pelo governo Eduardo Campos para a captação de recursos federais, sem contar o cumprimento dos cronogramas e da boa gestão na execução dos mesmos, o que favoreceu uma permanente frente de aapoio de recursos públicos federais ou de financiamentos internacionais avalizados pelo governo federal.

Também não se pode deixar de ouvir o discurso de Geraldo Júlio, pois sabemos que o Prefeito João da Costa não pode vir agora aparecer como vítima dos seus companheiros pura e simplesmente, porque quem excedeu nos cargos comissionados, centralizou a gestão e nao teve capacidade política de superar os problemas foi ele próprio. Então mudar a gestão é algo urgente, isso é óbvio e Geraldo Júlio não traz nenhuma novidade para ninguém:

“Eu tenho visto em cada das pessoas nos bairros da cidade nos olhos uma nova esperança que se construiu com toda essa unidade da Frente Popular. E todo mundo vê que nós teremos condição de construir essa cidade que os recifenses estão esperando. O Recife estão sonhando com dias melhores e com uma nova cidade”.

Agora, existe uma diferença grande diferença entre a falta de gerência na gestão de João da Costa com a direta necessidade de implantar um “gerente” como prefeito, porque elegendo líderes políticos identificados com a luta social das cidades o compromisso de fazer as coisas andarem vai modificar esse quadro gerencial caótico. É bom dizer que quem quebrou nações inteiras pelo mundo afora foram pessoas que vieram apenas como esse discurso de eficiência, de economicismo e de praticidade. Não será a economia que vai provocar mudanças e corrigir as distorções que geram as crises, mas o político, porque é bom dizer que quem está financiado de fato o desenvolvimento econômico de Pernambuco é o Estado brasileiro, seja nos projetos e obras executados por aqui, seja nos financiamentos via BNDES ou Caixa Econômica Federal.

Os desafios dos candidatos do PT e do PSB de explicar algumas questões ao eleitor  não são simples. O PT vai ter que mostrar que vai rever essa prática do Prefeito João da Costa em abrir milhares de cargos comissionados e terceirizados para seus supostos apadrinhados engessando totalmente a máquina da Prefeitura e ocasionando desperdício brutal de recursos públicos. No caso do candidato do PSB, a candidatura dele vai ter de explicar que se está colocando um “funcionário” do Governador Eduardo Campos na Prefeitura para inaugurar o poder público municipal como um mero “anexo” do Palácio do Governo do Estado. É isso que ouvimos nas ruas e cabe essa explicação dos candidatos no debate.

E eleição é para o povo abrir a boca e dizer o que pensa.

*Otávio Luiz Machado é educador, pesquisador, escritor e documentarista.
E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br

FONTE  : BLOG DO JAMILDO 

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